domingo, 14 de outubro de 2012

A gente invisível de Cajazeiras


As cidades pequenas um dia crescem e esborrotam empurrando tudo e todos para as periferias, mas o centro ferver assim mesmo. Anos atrás não se viam as figuras que se vê hoje por aqui pela terrinha. Falo de figuras urbanas já  conhecidas principalmente pelos frequentadores das noites aí afora.

Tem o sr. José (com aquela carinha mimosa), tinha sr. Tico que infelizmente encerrou a conta por essas bandas, tem 10 Centavos, Maísa, sr. Oliveira (que veio à Terra e queria voar, novamente talvez.), Babalú (essa é antiga, já é personagem folclórico) e tantos outros espalhados pela cidade afora.
É uma realidade dos impactos que o crescimento urbano (em todas as suas facetas) causa. Há pontos positivos e negativos.

Mas o que venho falar com tudo isso é o quanto essas pessoas tem a dizer, quantas histórias mirabolantes, quantas lições de vida... Você não às vê tristes, no máximo embriagadas. São gente! E gente com uma mala bem cheia.

São naturalmente excluídos dos vínculos de socialização (a grosso modo), são metralhados por desprezo e preconceito, claro que não venho aqui dar um de hipócrita mas lhes garanto que alguns deles eu já sentei pra conversar e tenho como estar aqui falando do assunto. Bom, voltando. Eles são aqueles que estão sim, fora da ordem social, fora do padrão imposto, fora dos costumes, fora disso tudo. Eles tem uma beleza interessantíssima, sr. José me disse que ele o pessoal que anda com ele dividem tudo. Olha ai! Estão ali sentados, sozinhos dividindo o pouco que tem do pouco que sobra. Simples ato que é de grande valia num mundo de leões onde uns comem uns outros por tão pouco.

No mais, são gente simples, humilde ao extremo, simpáticos, carentes de conversa e atenção. Mas também são guerreiros, batalhadores naquilo em que lhes coube. Resumindo. São gente.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Um copo molhado e vários universos.

   A mesa molhada do bar diz quanto tempo os copos já ficaram ali, indo e vindo a cada gole. É quase um ritual. Tem o altar, as oferendas, os sacerdotes e a consumação embriagada no fim da noite. São os dito cujos “Corações selvagens” que tanto anseiam tais noites, correndo velozes em busca de algo que nem ao menos tantos deles sabem descrever. E aquela sede matada ao gole gelado vai cada vez mais respondendo as incertezas, ou piorando-as. Eis o espírito da coisa.

   Já reparou os tantos universos paralelos que esses momentos nos levam? Parece algo infinito. Há um mundo em cada um, em cada ser daquele sentado ao seu lado dividindo a mesma garrafa, talvez o mesmo copo. Há páginas e mais páginas de um livro onde as entrelinhas falam mais alto, onde os pontos e vírgulas sustentam todo um frenesi de desejos. Delírios árduos em meio a palavras flutuantes.

   Quando falo em palavras flutuantes, falo daquelas palavras, daquelas frases que ficam rodopiando dentro da cabeça procurando uma linha onde possa ser encaixada. Aonde vão se formando pensamentos de uma vida heterogenia de fatos e desejos. É onde reina os questionamentos, as repostas, a escrita do poeta bêbado, do escritor sóbrio.

   Mas em meio a tudo isso existe um simples fator que une tudo e todos: O desejo de viver. Tão avassalador e selvagem que os impulsiona para frente, os faz lançar-se ao mundo sem medo de viver, de perder, de cair. E impulsiona o pulo pra cima, o “sacode a poeira”, o outro dia clareado, o novo sorriso. Você sente o desejo no calor da pele, naquele olhar infindo onde não se sabe até onde pode enxergar. É nesse momento que uma pergunta pode ser respondida. Porque existimos? Existimos pra viver.

   E tudo se torna eterno enquanto for lembrado.