sábado, 28 de junho de 2014

Sobre o não existir


        É de se lamentar ou comemorar o fato de sabermos tanto do que nos rodeia e negarmos reconhecer aquilo que em nós já não existe, ou talvez, há muito tempo deixou de existir. Trata-se de recompor a genealogia do eu no que ela tem de negativo, de mal entendido, de não aceito. Das categorias vivas e semelhantes estamos tão distantes. Somos sós, desde o berço, no desamparo dos símbolos, esses, loucos torturadores de nossa pueril existência. É hora de se deixar passar ao longe a ideia de uma natureza para homens, a fauna e flora agradeceriam tamanho favor! É hora de pensar na propaganda diária, as categorias egoístas de todos os dias, a força impulsionadora do poder, o outro sempre imperante, a frase, a palavra que nos escapa, o tropeço. Das formas ludibriadas dos séculos passados, tenhamos repulsa! Elas criaram monstros, anormais, maldições. Deixemos de lado a essência, o instinto. De nada valem! Delírios de uma época apegada aos alicerces perversos de ideias de quem o privilégio de já não se sentir animal beirava a sua mesa de jantar. É do não animal, do não instintual, da não essência o que falo. O fato da comparação, da internalização, o fato de sentir pertencente de tais aspectos nega a própria existência daquilo que só pode existir longe do romantismo, dessa amaldiçoada ligação cosmológica, natural, aos outros seres. Desacreditar do natural do homem é romper fronteiras. De todo o mal que pode haver na descrença do que é confortável a nós, teremos a alvorada e das cinzas uma nova forma de ver o cão que corre atrás do pneu de um automóvel, da criança que chora, do jovem que mata, do idoso e suas plantas, uma nova forma de ver que tudo, antes de nós, nunca existiu.

sábado, 28 de setembro de 2013

Orpheu e Eurídice: Um romance desconstruído



O mito grego Orfeu e Eurídice conta a história de um casal apaixonado, mas que diante de um destino carregado e dor foram separados pela eternidade. Porém nossa análise consiste em desvelar o que há por trás do mito e o que ele realmente pretende nos demonstrar.

       Partiremos do momento em que Eurídice é mordida por uma serpente ao fugir de um homem e após isso ela morre e sua alma é levada ao reino dos mortos. Orfeu que até então era um homem feliz com suas poesias, arpa, músicas e cantos cai em profunda tristeza por perder sua amada. Orfeu que antes encantava a todos, de seres humanos a animais com sua música agora se isolava do convívio humano mergulha em profunda tristeza. Por fim, não conseguindo suportar mais aquela situação, resolve adentrar ao mundo dos mortos a fim de resgatar a sua amada.
         Até este ponto nada fica bastante claro, porém, para que a ordem lógica da análise siga um esquema comecemos a levantar nossas questões: Eurídice é separada de seu amor por uma serpente e após disso Orfeu cai em tristeza, mas resolve ir ao mundo das trevas a fim de resgatar sua amada. Nesse ponto pensemos: a serpente sempre nos foi associada a uma imagem de traição, como podemos ver na bíblia, após o surgimento dela é que os dois se separam. Orfeu á traíra, devastou a confiança de sua amada Eurídice que agora se afasta do mesmo o deixando só e desolado. Porém, este homem ao enfrentar o poderoso centro de sua consciência, o ego, percorre determinado o caminho escuro do mundo das trevas a fim de reaver sua amada.
        Ao adentrar ao do reino inferno, Orfeu faz ecoar o som de sua lira por todo o mundo das trevas. Os demônios e almas condenadas que lá residiam ficaram todos encantados com o som de sua lira e até mesmo o senhor das trevas, o deus Hades se encantou e dele lágrimas foram arrancadas. Neste momento podemos perceber que há uma guerra entre consciente e inconsciente. Orfeu exibe uma persona que agrada a todos, conseguindo até mesmo enganar a se mesmo, porém sua consciência visita o seu lado mais sombrio, o darkside, onde encontra suas inquietações referentes à Eurídice.
        Hades e Perséfone encantados com a música de Orfeu permitem-no que leve Eurídice de volta ao mundo dos vivos, mas, com uma condição: que Orfeu não olhasse para trás enquanto percorria o caminho de volta. Enquanto passavam em meio a trevas e uma névoa espessa a luz já se aproximava e ele já tomado de amores e esquecido da posição que lhe impuseram, Orfeu resolve olhar para Eurídice e nesse exato momento ouve-se um estrondo espantoso e ela diz: “Que loucura foi essa que perdeu a mim e a ti, Orfeu? Já de novo os destinos cruéis me chamam e o sono começa a serrar meus olhos. É hora de dizer-te adeus. A noite imensa me circunda e ergo em vão para ti as minhas mãos enfraquecidas”.
        Após Eurídice sumir como névoa, Orfeu se desespera por saber que sua música não poderia mais desdobrar os deuses infernais e que era impossível lutar contra suas leis. Por toda a vida, desse dia em diante, Orfeu cantou seu amor para Eurídice mergulhado em dor sabendo que perdera seu grande amor por um descuido fatal.
        Nessa ultima parte da história percebemos que Orfeu novamente trai Eurídice por olhar para trás, e por isso ela, sem suportar mais, some de vez da vida de seu grande amor. Afirma Eurídice “Que loucura foi essa que perdeu a mim e a ti, Orfeu?” logo afirma         “É hora de dizer-te adeus. A noite imensa me circunda e ergo em vão para ti as minhas mãos enfraquecidas”. Eurídice agora estava enfurecida e triste por mais uma vez Orfeu tê-la traído e assim, perdido os dois. E por ultimo afirma que já não tem forças o suficiente para tentar unir-se a Orfeu novamente, era o fim.
        O que podemos concluir é que, esse mito constitui um arquétipo típico de nossa época: o do homem ou mulher que afirma amar seu companheiro(a) porém sucessivamente o trai de alguma forma. Usam de uma persona encantadora e de um jeito de levar a situação a seu favor, mas que, em algum momento o companheiro(a) acaba que se cansando da situação e rompe de vez. E o companheiro traidor, em meio as suas dúvidas e guerras internas, tendem a sofrer sem nunca deixar de esquecer a tal pessoal que tanto amou.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

A Garota que Corria no Vento


Para Andreza da Silva Sauro aquela que corre, corre, corre.



Era quase meia noite, eu esperava minha ultima garrafa de cerveja para encerrar a noite. Nada mais me interessava naquele lugar. Estava há dias enfadado de tanto modismo, de tanta linearidade nas pessoas, tanta gente igual, normal. Aquilo me enchia assim como a cerveja enchia minhas veias de álcool e cabeça de novas perspectivas. Agarrei o troco e a última cerveja e ao dar o primeiro gole me surge ao lado aquela pessoa inesperada olhando pra mim. Foi uma contradição espacial em relação ao que se passava naquele lugar, naquele momento. Todos tão cheios de si, tão presos a si, e do nada me aparece aquela figura desconcertando tudo ali, surpreendendo. Como se já não bastasse sua presença me fitando com olhos, ainda me pergunta.
- Vamos correr no vento?
- Como?
- É! Vamos correr no vento comigo?
- Como assim correr no vento?
- Correr, sentir, correr. Correr bem ali – Ela apontava para um vasto espaço aberto a nossa frente, como se fosse uma grande quadra aberta.
- Bom... É posso correr no vento com você – Nesse momento me perguntava como seria possível isso. Tinha ficado completamente desnorteado com a proposta – me deixa apenas terminar essa cerveja?
- Ah, deixa essa cerveja com alguém e vamos! Estou só, todos já foram e eu queria que alguém viesse junto comigo.
- Ok, tudo bem então – nesse momento fui a um amigo e o chamei também e logo depois deixei a garrafa de cerveja no chão sem pensar duas vezes.
Naquele momento já não podia entender nada. Lá estamos nós: Eu, ela e um amigo indo de encontro a um lugar totalmente vazio e aberto. E um pouco depois até começou a fazer sentido quando ela nos olhou.
- É preciso saber pra que lado o vento tá indo – e lá ia ela a nossa frente levantando um braço, sentindo o vento, se orientando. E lá fomos nós juntos ajuda-la nesse momento.
- Pronto! Acho que é por aqui. Vamos, vamos rápido!
Lá íamos nós seguindo o vento, indo na mesma direção e nesse momento ele começou a soprar mais forte e mais forte e em um piscar de olhos lá estávamos nós três correndo sentindo o vento bater em nossos rostos, balançando os cabelos. Comecei a me sentir melhor, livre até, e foi ai onde eu quis saber o porquê daquilo. Eu queria saber. Talvez ela corresse no vento com a intenção de se desligar, de se partir em mil pedaços, se espalhar no ar. Talvez ela corresse pra deixar tudo pra trás e o vento levasse. Não, eu não entendia, mas quis saber.
Depois paramos de correr, estávamos um pouco cansados, puxando ar, meio sem fôlego e do anda ela nos chama a atenção.
- Novamente, novamente! – saiu correndo sem nos esperar e logo fomos atrás e novamente lá estávamos nos indo até a outra extremidade de onde tínhamos partido. Naquele momento eu já não me segurava.
- Porque você faz isso? – Gritei.
- Eu não sei, ou talvez eu saiba, mas não sei dizer – nesse momento ela parou e veio mais pra perto.
- Você sabe quando nós sentimos que nossa barriga está ali? Você sabe que ela está ali?
- Não sei, eu acho – respondi.
- A gente sabe que ela está ali quando estamos com fome. E o que fazemos pra parar? Comemos! A gente sabe que ela está quando estamos com dor de barriga. E o que fazemos pra parar? Vamos ao banheiro ou tomamos algum remédio. A gente sabe quando tá com “borboletas no estômago”. E o que fazemos? Tentamos relaxar. É assim que a gente sente nossa barriga, mas não me pergunte sobre correr no vento. Às vezes só quero correr.
- Mas talvez você tenha alguma razão. A gente sempre tem alguma razão pra fazer as coisas. Talvez queira se livrar de algo?
- Não sei, talvez. Corro pra me sentir bem. Corro porque me sinto livre. Talvez um dia ele me leve pra algum lugar. Tenho algumas certezas e como trata-las, como as da barriga, mas correr ainda é incógnita. Quem sabe seja melhor assim. Quem sabe quando eu descobrir ele possa me levar pra onde eu quiser ou para onde ele for. Por enquanto prefiro correr e me sentir nele, me sentir ele, sem limites. Talvez seja um começo de resposta isso. Sem limites.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Mapas e acasos - parte II


Já meio saturado e tanto esperar, de tanto pensar, de tanto... Ah, de tanta coisa é que venho aqui escrever novamente sobre “pé na estrada”.

Eu e Laurita Dias no morro do Cristo vendo o nascer do Sol

O ano de 2012 foi “carregado” como diz o pessoal daqui. Esse ano teve de tudo e um pouco mais. Tudo começa comigo saindo de minha linda Cajazeiras e partindo pra ir estudar em João Pessoa na UFPB, um mês de aula lá e já estava eu de volta em Cz. Tinha sido chamado pra estudar em Campina Grande, na UFCG. Desde então tenho esperado as aulas começarem, e nessa bendita espera me apareceram pessoas, outras sumiram, outras nem chegaram. Foi um ano frenético de mudanças radicais, até. De muito tempo livre, de muitas escolhas, encruzilhadas, lutas, companheirismo, militância, estudo, mas também de angústia e perturbações. Acontece.

Hoje é um dos últimos dias em que continuo por aqui. Serão longos cincos anos por outras terras, literalmente o “cara pálida” em meio á Yankees. Velejando com meu barco em meio a um mar de acasos, mas como já dizia Calcanhotto “onde foi exatamente que larguei naquele dia mesmo o leão que sempre cavalguei”, o bom nisso é que eu o tenho de volta!

Esse é um texto de despedida, pra meus amigos, como uma carta que você envia pra cada um. O que mais me pesou foi isso, meus amigos. Às vezes não parece ou não demonstro, mas sim, tenho um carinho enorme por eles, gosto, os adoro, os quero perto e esse é o maior sacrifício que vou ter que fazer além dos outros tantos que vão vir pela frente. Vou ter que ir pra longe, mas levando todos no coração e na saudade. A lei da troca equivalente reina como um imperador cruel: “Pra receber algo é preciso dar algo de valor igual em troca” e aqui estou eu nessa silhueta mais uma vez.

Quando me faltava exatamente um mês pra ir embora escrevi esse texto donde salvei por que precisa completa-lo, acho que agora esta:

Um mês, apenas um. Onde a pressa é tamanha e o tempo é muito e ao mesmo tempo pouco. Vou talhar nossos nomes, o meu, o seu, o dele em árvores imaginárias que se eternizam na memória feito fotografia guardada em álbuns de recordação.
Logo depois vai ter o devaneio, a saudade. Vai ter aquele desejo rasgante de onde ser e onde estar. Mas vai ter chegada também, vai ter abraço, vai ter saudade morta, mas que logo mais virá. Vai ser assim enquanto não chega mais outro fim de jornada.


E como da primeira vez, termino o texto com a música que chega bem longe do perto que é me definir.

Mapas do Acaso - Engenheiros do Hawaii


não peça perdão, a culpa não é sua 
estamos no mesmo barco e ele ainda flutua 
não perca a razão, ela já não é sua 
onda após onda, o barco ainda flutua 
ao sabor do acaso 
apesar dos pesares 
ao sabor do acaso... flutua

então, preste atenção: o mar não ensina, insinua 
estamos no mesmo barco, sob a mesma lua 
no mar, em marte, em qualquer parte 
estaremos sempre sob a mesma lua 
ao sabor da corrente 
tão fortes quanto o elo mais fraco 
ao sabor da corrente... sob a mesma lua

âncora, vela 
?qual me leva? 
?qual me prende? 
mapas e bússola 
sorte e acaso 
?quem sabe (?) do que depende?

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

A ira de um anjo


A sociedade costuma condenar sem perdão atos como assassinato, estupro, canibalismo, esquartejamento, tortura e outra série de atos desumanos que são praticados mundo afora, mas em alguns casos tais atos podem ser explicados. O "porque?" dessas ações pode ter um significado ou uma resposta coerente. Não venho aqui defender tais atos mas sim dizer que em alguns casos eles são movidos por algo há mais, conscientemente ou inconscientemente há algo neles onde se encontra os reais motivos que justifiquem esses atos.

É comprovado que a formação de nossa personalidade começa na infância e vai até a adolescência e é justamente no período da infância onde o meio em que a criança vive mais vai influenciar na sua vida adulta e nos seus atos. Tudo o que ela viveu de bom ou ruim/de bom e ruim será reproduzindo por ela mais tarde. Sua mente e seu corpo vão reagir a esses estímulos.

É fácil perceber como uma pessoa reage a um trauma, muitas vezes ele se esconde, quer ficar só, ou até mesmo pode atacar alguém. Pessoas que sempre tiverem uma vida tranquila são mais apegáveis, amorosas e carinhosas. Tudo é reflexo.

Mas o que venho tratar aqui é justamente sobre pessoas perturbadas, traumatizadas e que por isso agiram de formas nada convencionais, mas que tais atos foram o reflexo daquilo que já viveram. Os psicopatas, ou serial killers (como preferirem) são pessoas extremamente destroçadas, instáveis, sem auto-controle. Todos eles tiveram uma infância complicada com separações, abusos, maus tratos, preconceitos, descaso e todas essas coisas refletiram no que posteriormente eles se tornaram (mas claro que não é em todos os casos, nem todos desenvolvem a psicopatia). São vítimas, assim como nós poderíamos ser deles, infelizmente.

Não vou me estender muito nem pretendo dar uma aula de Comportamental aqui. Só vim bater um papo a respeito disso, porque as vezes passa despercebido que eles também são gente e que tem uma história. A moral pesa nessa hora, pois são criminosos, mas também são vítimas e é preciso olhar os dois lados da moeda.

Aqui abaixo vem um vídeo sobre uma garotinha que sofreu maus tratos ainda bebê e ao longo do tempo esses más lembranças foram revertidas em atos de violência e ódio contra os mais próximos. Ela tinha tudo pra ter se tornado uma futura psicopata mas com os cuidados dos pais adotivos e toda a atenção á esse problema, sendo tratado logo cedo pôde ser revertido. Ela hoje é psicologa e é presidente de uma ONG que trabalha com crianças que sofreram violência.



domingo, 14 de outubro de 2012

A gente invisível de Cajazeiras


As cidades pequenas um dia crescem e esborrotam empurrando tudo e todos para as periferias, mas o centro ferver assim mesmo. Anos atrás não se viam as figuras que se vê hoje por aqui pela terrinha. Falo de figuras urbanas já  conhecidas principalmente pelos frequentadores das noites aí afora.

Tem o sr. José (com aquela carinha mimosa), tinha sr. Tico que infelizmente encerrou a conta por essas bandas, tem 10 Centavos, Maísa, sr. Oliveira (que veio à Terra e queria voar, novamente talvez.), Babalú (essa é antiga, já é personagem folclórico) e tantos outros espalhados pela cidade afora.
É uma realidade dos impactos que o crescimento urbano (em todas as suas facetas) causa. Há pontos positivos e negativos.

Mas o que venho falar com tudo isso é o quanto essas pessoas tem a dizer, quantas histórias mirabolantes, quantas lições de vida... Você não às vê tristes, no máximo embriagadas. São gente! E gente com uma mala bem cheia.

São naturalmente excluídos dos vínculos de socialização (a grosso modo), são metralhados por desprezo e preconceito, claro que não venho aqui dar um de hipócrita mas lhes garanto que alguns deles eu já sentei pra conversar e tenho como estar aqui falando do assunto. Bom, voltando. Eles são aqueles que estão sim, fora da ordem social, fora do padrão imposto, fora dos costumes, fora disso tudo. Eles tem uma beleza interessantíssima, sr. José me disse que ele o pessoal que anda com ele dividem tudo. Olha ai! Estão ali sentados, sozinhos dividindo o pouco que tem do pouco que sobra. Simples ato que é de grande valia num mundo de leões onde uns comem uns outros por tão pouco.

No mais, são gente simples, humilde ao extremo, simpáticos, carentes de conversa e atenção. Mas também são guerreiros, batalhadores naquilo em que lhes coube. Resumindo. São gente.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Um copo molhado e vários universos.

   A mesa molhada do bar diz quanto tempo os copos já ficaram ali, indo e vindo a cada gole. É quase um ritual. Tem o altar, as oferendas, os sacerdotes e a consumação embriagada no fim da noite. São os dito cujos “Corações selvagens” que tanto anseiam tais noites, correndo velozes em busca de algo que nem ao menos tantos deles sabem descrever. E aquela sede matada ao gole gelado vai cada vez mais respondendo as incertezas, ou piorando-as. Eis o espírito da coisa.

   Já reparou os tantos universos paralelos que esses momentos nos levam? Parece algo infinito. Há um mundo em cada um, em cada ser daquele sentado ao seu lado dividindo a mesma garrafa, talvez o mesmo copo. Há páginas e mais páginas de um livro onde as entrelinhas falam mais alto, onde os pontos e vírgulas sustentam todo um frenesi de desejos. Delírios árduos em meio a palavras flutuantes.

   Quando falo em palavras flutuantes, falo daquelas palavras, daquelas frases que ficam rodopiando dentro da cabeça procurando uma linha onde possa ser encaixada. Aonde vão se formando pensamentos de uma vida heterogenia de fatos e desejos. É onde reina os questionamentos, as repostas, a escrita do poeta bêbado, do escritor sóbrio.

   Mas em meio a tudo isso existe um simples fator que une tudo e todos: O desejo de viver. Tão avassalador e selvagem que os impulsiona para frente, os faz lançar-se ao mundo sem medo de viver, de perder, de cair. E impulsiona o pulo pra cima, o “sacode a poeira”, o outro dia clareado, o novo sorriso. Você sente o desejo no calor da pele, naquele olhar infindo onde não se sabe até onde pode enxergar. É nesse momento que uma pergunta pode ser respondida. Porque existimos? Existimos pra viver.

   E tudo se torna eterno enquanto for lembrado.