sábado, 11 de agosto de 2012

Carta à madrugada



Você parece nunca me abandonar. Me abandonará? A morte chegará... De pouco importa! Se há muita vida e tempo para desbravar-te. Tão sublime, fogosa e misteriosa parece-me nunca ter um fim, mas quando o fim chega,  chega em tom amarelo, céu borrado, cheio de luzes. É só um aviso de que você voltará. Me deixa inquieto...

Quando voltas é momento de saciar a sede de quem já vem impregnado, desde as primeiras horas do dia pela ânsia de te rever. É contigo que duvidei, indaguei, e me diverti.  É em ti que perco horas, vago entre vãos sólidos de tijolos e cimento. É em ti que me guardo e me enxergo.

Não é a toa que tantos outros, assim como eu (ou não) também te preferem. É quase uma orgia, a mais cobiçada hora entre muitas. E o que seria de nós, meros homens e mulheres sedentos pela inexplicável roda viva da vida sem ti? Vagaríamos por ai a troco de migalhas de incertas horas, além de ti, que talvez nos saciem.

É no silencio de ti que vou indo além de mim. E como já dizia o véi Paccelli Gurgel.

“Sempre me atraíram as madrugadas. Sempre as tive como minha fase predileta dos dias. O silêncio do mundo, o ressonar das coisas, a paz das ruas e becos vazios dos dramas humanos mais comuns, me proporcionam certa paz que se exaure paulatinamente sob a intensidade das pressões que nos assolam a partir das sete da manhã.”

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