quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

A Garota que Corria no Vento


Para Andreza da Silva Sauro aquela que corre, corre, corre.



Era quase meia noite, eu esperava minha ultima garrafa de cerveja para encerrar a noite. Nada mais me interessava naquele lugar. Estava há dias enfadado de tanto modismo, de tanta linearidade nas pessoas, tanta gente igual, normal. Aquilo me enchia assim como a cerveja enchia minhas veias de álcool e cabeça de novas perspectivas. Agarrei o troco e a última cerveja e ao dar o primeiro gole me surge ao lado aquela pessoa inesperada olhando pra mim. Foi uma contradição espacial em relação ao que se passava naquele lugar, naquele momento. Todos tão cheios de si, tão presos a si, e do nada me aparece aquela figura desconcertando tudo ali, surpreendendo. Como se já não bastasse sua presença me fitando com olhos, ainda me pergunta.
- Vamos correr no vento?
- Como?
- É! Vamos correr no vento comigo?
- Como assim correr no vento?
- Correr, sentir, correr. Correr bem ali – Ela apontava para um vasto espaço aberto a nossa frente, como se fosse uma grande quadra aberta.
- Bom... É posso correr no vento com você – Nesse momento me perguntava como seria possível isso. Tinha ficado completamente desnorteado com a proposta – me deixa apenas terminar essa cerveja?
- Ah, deixa essa cerveja com alguém e vamos! Estou só, todos já foram e eu queria que alguém viesse junto comigo.
- Ok, tudo bem então – nesse momento fui a um amigo e o chamei também e logo depois deixei a garrafa de cerveja no chão sem pensar duas vezes.
Naquele momento já não podia entender nada. Lá estamos nós: Eu, ela e um amigo indo de encontro a um lugar totalmente vazio e aberto. E um pouco depois até começou a fazer sentido quando ela nos olhou.
- É preciso saber pra que lado o vento tá indo – e lá ia ela a nossa frente levantando um braço, sentindo o vento, se orientando. E lá fomos nós juntos ajuda-la nesse momento.
- Pronto! Acho que é por aqui. Vamos, vamos rápido!
Lá íamos nós seguindo o vento, indo na mesma direção e nesse momento ele começou a soprar mais forte e mais forte e em um piscar de olhos lá estávamos nós três correndo sentindo o vento bater em nossos rostos, balançando os cabelos. Comecei a me sentir melhor, livre até, e foi ai onde eu quis saber o porquê daquilo. Eu queria saber. Talvez ela corresse no vento com a intenção de se desligar, de se partir em mil pedaços, se espalhar no ar. Talvez ela corresse pra deixar tudo pra trás e o vento levasse. Não, eu não entendia, mas quis saber.
Depois paramos de correr, estávamos um pouco cansados, puxando ar, meio sem fôlego e do anda ela nos chama a atenção.
- Novamente, novamente! – saiu correndo sem nos esperar e logo fomos atrás e novamente lá estávamos nos indo até a outra extremidade de onde tínhamos partido. Naquele momento eu já não me segurava.
- Porque você faz isso? – Gritei.
- Eu não sei, ou talvez eu saiba, mas não sei dizer – nesse momento ela parou e veio mais pra perto.
- Você sabe quando nós sentimos que nossa barriga está ali? Você sabe que ela está ali?
- Não sei, eu acho – respondi.
- A gente sabe que ela está ali quando estamos com fome. E o que fazemos pra parar? Comemos! A gente sabe que ela está quando estamos com dor de barriga. E o que fazemos pra parar? Vamos ao banheiro ou tomamos algum remédio. A gente sabe quando tá com “borboletas no estômago”. E o que fazemos? Tentamos relaxar. É assim que a gente sente nossa barriga, mas não me pergunte sobre correr no vento. Às vezes só quero correr.
- Mas talvez você tenha alguma razão. A gente sempre tem alguma razão pra fazer as coisas. Talvez queira se livrar de algo?
- Não sei, talvez. Corro pra me sentir bem. Corro porque me sinto livre. Talvez um dia ele me leve pra algum lugar. Tenho algumas certezas e como trata-las, como as da barriga, mas correr ainda é incógnita. Quem sabe seja melhor assim. Quem sabe quando eu descobrir ele possa me levar pra onde eu quiser ou para onde ele for. Por enquanto prefiro correr e me sentir nele, me sentir ele, sem limites. Talvez seja um começo de resposta isso. Sem limites.

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